Criar conexão com um bebê recém chegado na família certamente não deve ser considerado uma "tarefa" e, muito menos, exclusivamente atribuída às mães.
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Entretanto, são elas que mais se angustiam com isso, pois são as mais atingidas pela exaustão que esgota sua disponibilidade.
Afinal, ninguém consegue dar o que não tem !
Por isso, vou escrever esse texto focando em acolher as mães nesse, que talvez seja o maior de todos os desafios quando se trata de maternar.
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Criar conexão com o bebê que acaba de chegar é se encontrar com ele nesse lugar onde vocês são ligados por algo intenso, mas ao mesmo tempo, não sabem nada um sobre o outro.
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A amamentação é a principal referência de vínculo com bebê e momento de conexão. Porém, fica a pergunta: o que faz então quem não pode amamentar ? ou, como lidar com esse "peso" adicional para algo que já se mostra por si tão difícil.
Isso sem contar o fato de que amamentar poderia ser considerado um trabalho, tamanha a demanda de horas que ele requer, então, como achar que toda vez que a mãe vai amamentar ela terá aquele olhar terno e romântico para seu filho.
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E quanto ao cansaço ? Como arranjar energia para estar disponível para essa conexão estando sob privação de sono e exaustão física e mental ?
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É muito comum eu ouvir das mães em consulta essa frase: "todo mundo consegue brincar com o bebê, menos eu". A fala reflete a frustração e a culpa por não ter sobrado energia para momentos de prazer sem comprossimo com os filhos.
Isso acontece especialmente nos 3 primeiros meses de vida da criança, mas pode perpetuar por toda infância.
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E se eu contasse pra vocês que eu, facilitadora de vínculo mãe-bebê e instrutora de Shantala experiente, não consegui fazer massagem na minha Isabel.
Sim, senhoras e senhores, quem já leu sobre a minha história sabe que o final da minha gestação e meu puerpério foram um tanto sofridos, e isso agravou toda minha disponibilidade. Sem contar minha total incapacidade de descentralizar os cuidados com a Bel e aceitar ajuda.
Eu estava tão cansada em tentar manter o controle de tudo e querer que as coisas acontecessem do meu jeito e atendendo as minhas expectativas que não conseguia ter energia para curtir minha filhota. Me cobrava alta performance por ser uma profissional da área, sem entender que, mesmo com todo conhecimento que eu tinha, viver o maternar era novo e eu teria que me abrir para o aprendizado como qulaquer outra mulher.
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Por isso que digo que viver o maternar foi minha pós-graduação.
Foi vivenciando os desafios que entendi que não adiantava só propor ferramentas para os momentos de conexão da mãe com o bebê, era preciso desenvolver estratégias para abrir espaço para essa conexão.
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E foi assim, que passei a conduzir meus atendimentos - buscando identificar, na individualidade de cada maternar, o que poderia "atrapalhar" os momentos de presença descompromissada com o bebê.
Muitas vezes, pequenos ajustes na rotina e/ou mudanças de mentalidade já são suficientes para que as mães se encontrem de verdade com seus bebês.
Sem esquecer de considerar que si mesma nesse processo é imprescindível.
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Entender como funcionam ferramentas como a Shantala e o Slingar, e flexibilizar sua aplicação são o segredo para que sua prática não se torne uma demanda a mais na rotina e acabe por ser abandonada.
Um manual rígido e cheio de regras trará uma experiência ruim e, fatalmente, vai acabar no fundo de uma gaveta.
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É muito gratificante para mim quando percebo mãe e bebê criando suas próprias estratégias, um atento ao outro, se conhecendo e criando laços.
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Gosto da analogia do cultivo...
Eu ofereço a semente e te oriento como cultivá-la, mas daí pra frente é contigo.
Se vai gostar de luz ou sombra, muita ou pouca água, vaso grande ou pequeno, tipo de adubo, você só vai descobrir com o tempo e a convivência.
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Assim é com nossos bebês.
Vamos aprendendo deles e eles de nós todos os dias, um dia de cada vez, oferencendo à essa relação o melhor de nós mesmas.
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Ouvi recentemente algo que reforça meu entusiasmo, minhas motivações ...
"O cultivo desse vínculo, ao meu ver, é o que há de mais importante no pós-parto. Todo o resto se ajeita."
por Bia Singer, mãe e escritora do livro Entressafras em uma de nossas conversas no direct do Instagram
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Meu objetivo em atendimento vai além de ensinar Shantala ou como amarrar um Sling,.
Quero ajudar as mães a viver um maternar mais leve, saudável e feliz e a despertar para criar laços que se modificam e se fortalecem ao longo dos anos e nos manter próximos - crescendo e aprendendo junto com nossos filhos - lado a lado.
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Espero que eu tenha conseguido trazer nesse texto uma mensagem que fala ao coração das mães e transmita que o puerpério é o início de uma jornada ao lado dos nossos filhos e que a gente pode apreciar a paisagem, apesar das pedras que apareçam pelo caminho.
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Conte comigo.
Com carinho ;) Adri
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